Europa se curva ao autor de "O Guarani"
Colaboração para a Folha Online
Foi com Carlos Gomes que a arte brasileira, pela primeira vez na história, conseguiu atravessar o Atlântico e foi aplaudida na Europa. Nascido em 11 de julho de 1836, na pequena Vila Real de São Carlos, atual Campinas (SP), o pequeno Tonico, como era chamado pelos familiares, era filho de Manoel José Gomes, mestre de música e banda. Aos dez anos, com o auxílio do pai, aprendeu a tocar diversos instrumentos.
Quando adolescente, Carlos Gomes trabalhava em uma alfaiataria, costurando paletós e calças. No tempo livre, aproveitava para aperfeiçoar os estudos musicais. Já nessa época, apresentava-se com o pai e o irmão mais velho, Pedro Sant'Anna Gomes, nos bailes e pequenos concertos da cidade. Ele era uma espécie de "coringa" da banda. Como sabia tocar vários instrumentos, podia assumir qualquer posição do grupo.
Desde este período, Carlos Gomes já compunha canções religiosas e modinhas românticas - que sempre estiveram presentes em seu repertório. Em 1859, partiu em turnê com o irmão e o amigo Henrique Luiz Levy. Ao chegar na capital paulista, ficou amigo dos estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Em homenagem aos novos companheiros, compôs o Hino Acadêmico e a modinha Quem sabe?, obras que o tornaram conhecido entre as repúblicas estudantis.
No ano seguinte, com o objetivo de consolidar sua formação musical, mudou-se para o Rio de Janeiro, contra a vontade do pai, para iniciar os estudos no conservatório da cidade. "Uma idéia fixa me acompanha como o meu destino! Tenho culpa, porventura, por tal cousa, se foi vossemecê que me deu o gosto pela arte a que me dediquei e se seus esforços e sacrifícios fizeram-me ganhar ambição de glórias futuras?", escreveu ao pai, aflito e cheio de remorso por tê-lo contrariado. "Não me culpe pelo passo que dei hoje. [...] Nada mais lhe posso dizer nesta ocasião, mas afirmo a que as minhas intenções são puras e espero desassossegado a sua benção e o seu perdão", completou.
No Rio, foi apresentado a D. Pedro 2º, que se tornaria seu admirador e mecenas. O imperador o enviou a Milão para que aprimorasse os conhecimentos em música. Anos depois, em 1870, Carlos Gomes iniciou-se a brilhante carreira do compositor, ao apresentar, no Teatro Alla Scalla da cidade italiana, a ópera O Guarani, baseada no romance homônimo de José de Alencar. A obra rodou o mundo.
Foi nesta época que conheceu a italiana Adelina Conte Peri, por quem se apaixonou. Pianista e professora, ela era colega de conservatório do compositor. Em 1871, casaram-se. Embora a união tenha sido um tanto quanto conturbada, tiveram cinco filhos --três morreram prematuramente.
Com a morte de Mário, um dos filhos do casal, o compositor entrou em profunda depressão e mudou-se para Gênova. "Mário, subindo ao céu, aos cinco anos, me deixou na terra infeliz para toda a vida", escreveu o músico.
A partir desde momento, Carlos Gomes endividou-se, passou por grandes dificuldades financeiras, sofreu várias crises nervosas e viciou-se em ópio. Há quem diga que manteve casos amorosos com várias mulheres, o que justificaria a separação com Adelina, em 1885.
Ao longo da vida, Carlos Gomes esteve dividido entre duas pátrias, duas nacionalidades. Ao adotar a Itália como segunda nação, o compositor foi duramente hostilizado pelos brasileiros, que o viam como um aproveitador do dinheiro público, já que tinha como "mecenas" o imperador D. Pedro 2º. Em contrapartida, os italianos o enxergavam como um mercenário, pois acreditavam que ele produzia arte com fins comerciais --O Guarani, inclusive, foi vendido a um editor.
Um ano antes de morrer, o compositor foi convidado para dirigir o Conservatório do Pará. Mesmo doente, aceitou o convite. Após três meses no cargo, Carlos Gomes morreu em Belém, no dia 16 de setembro de 1896, aos 60 anos.
Fonte: UOL
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