Eu sei que esse é um assunto muito (mal) falado, (mal) discutido, que causa exaustão; mas, hoje, durante uma aula de hinódia, onde discutimos o ponto de vista de Calvino, em relação a música da igreja, a música sacra, a música separada, a música sagrada, alguns questionamentos começaram a ser levantados. Um deles, que mais me chamou a atenção foi sobre contextualização; a igreja precisa ser contextualizada.
Um dos exemplos narrados foi de uma igreja, situada em um morro carioca, ou ao pé de um morro, onde sua liturgia é chamada de “tradicional”, são mais de 100 anos de história; podemos dizer que essa igreja já tem sua “cultura musical” estabelecida; uma cultura que deve ser respeitada. Pode ser que seja uma cultura herdada dos ingleses, americanos ou até mesmo brasileiros, mas, essa cultura deve ser preservada.
Uma linguagem cultural/musical que perdura por mais de 100 anos, ou até menos, 40, 50 anos, torna-se “sagrada” para a grande maioria dos fiéis.
A grande questão, o que eu realmente não entendo é a luta de alguns pastores e ministros de música que são capazes até mesmo de venderem suas almas ao diabo, pra mudar a realidade dessas igrejas. Tudo em nome do que eles chamam de “contemporâneo”. Hoje, um termo que tem me causado embrulho no estômago, quando discutido com pessoas com pontos de vista sem profundidade. O simples fato de se mudar o ritmo dos hinos é se tornar contemporâneo? Acho que não. Mas, o que mais me deixa estupefato, é que alguns líderes usam de desculpa aquela antiga idéia: Precisamos atrair os adolescentes, os jovens! Fazemos o que for necessário! Isso me lembra as Cruzadas. Matava-se em nome de Deus. É o que falta: levar os velhinhos pra dentro de uma sala e gás mortal neles. Agora eu pergunto: A grande maioria dos contribuintes fiéis são os adolescentes e jovens ou os de meia idade e de terceira idade ou quarta idade?
A verdade é que esses líderes estão jogando na rua, pelas janelas aqueles que sustentam financeiramente o andamento dos trabalhos da igreja; isso tudo dizem eles em nome de Deus! Em nome do “contemporâneo”.
O “contemporâneo” tem se tornado um deus para alguns pastores e músicos; um deus porque ele tem se tornado “sagrado” nos cultos dominicais. Tudo deve ter ritmo contemporâneo, se não tem, não serve pro culto.
Essa história de mudar o ritmo dos hinos pra mim é uma furada; é musico incompetente, sem criatividade, musico que não sabe compor, não entende de música. Ora meu amigo musico, quer tocar um jazz? Componha! Mãos à obra; não fique mudando o que já se tornou “sagrado” pra muitas pessoas.
Precisamos aprender a respeitar. Precisamos aprender a valorizar. Não podemos passar por cima de todos e de tudo por causa de um gosto pessoal, em nome de um deus (contemporâneo) que está se tornando “sagrado” em nosso meio.
Fabiano Rocha
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ResponderExcluirNobre Fabiano, é um prazer comentar no seu blog.
ResponderExcluirAcredito que os seus questionamentos sejam válidos. Se o querido irmão me permitir, quero acrescentar também alguns pensamentos sobre a parte musical. A questão moral prefiro não comentar no momento, apesar de você ter dado destaque a ela. Penso que o centro da questão musical seja mesmo a palavra que ultimamente te dá náuseas: "contemporâneo", ou melhor o mau uso dessa expressão, que por si mesma já é de difícil definição.
Você sabe que eu não tenho nenhuma formação acadêmica, então me perdoe se eu disser alguma coisa errada.
Um ponto interessante, para começar, é a diferença da abordagem dos músicos clássicos, de jazz e os populares. Os músicos clássicos estudam para desenvolver a técnica e a capacidade de leitura e interpretação; os músicos de jazz estudam para serem capazes de tocar (reproduzir) qualquer coisa que eles venham a ouvir; e os músicos populares procuram criar composições intensas a partir de suas habilidades atuais. O que isso tem a ver com o contemporâneo? É aí que eu quero chegar. Me parece que algumas pessoas estão usando a palavra "contemporâneo" em lugar de "popular", e "popular" no mau sentido. Ainda que música contemporânea para nós seja qualquer música contemporânea a nós, e então pode ser música erudita também, existe um rótulo (comercial) de música cristã contemporânea que muitas vezes é imposto às igrejas por causa da mídia. Mas a atitude musical pode ser uma atitude de músico popular ruim, ou seja aquele que não quer se desenvolver e não dá espaço para aqueles que tem a formação competente para executar aquilo que eles não podem. Isso gera prejuízo à musicalidade (tão rica) da igreja.
Concordo quando você diz que não basta mudar o ritmo de um hino para ficar contemporâneo, às vezes fica caquético. Mas alguns hinos tem força histórica suficiente (aí entra a hinologia) para sobreviver à versões modernizadas, mas não todos. Mesmo eu que sou músico amador (mas de coração), que toco de ouvido e por cifras, quando ouço o grupo de louvor tocar "Cantarei teu amor pra sempre", que é uma balada de rock da banda inglesa Delirious? em rítmo de soul, já estranho. Que dirá o pessoal da velha guarda quando a gente "muda" algum hino. Gosto de música clássica e acho que os hinos padronizados ficam realmente belos quando tocados com técnica e expressão, para não dizer com os instrumentos adequados. Isso requer um investimento específico em pessoas, instrumentos, planejamento, educação, e por que não dizer, hinologia, seja ela do contexto da igreja local ou da composição. Difícil é esperar isso do pessoal da música popular. Mas se aqueles que tem conhecimento forem capazes de incentivar os mais jovens ao estudo da técnica e da interpretação...
Parece que algumas pessoas tem feito mau uso da expressão contemporâneo, fazendo com alguns fiquem até com raiva dela, mais ou menos o que acontece com a palavra "crente", trocando-a por "cristão", mas ambas estão na Bíblia. A música da igreja pode ter elementos contemporâneos sem ter que ser "popular" no mau sentido. Isso na minha opinião, é claro que se alguém entende música sacra, no caso a música de culto, apenas pela definição: solene, reverente, melodiosa e controlada, e que estes elementos se resumem a uma atitude musical clássica e antiga, certamente serei por ele excluído por ser contemporâneo. Você citou o João Calvino, mas fiquei sem saber se você concorda ou discorda dele. Qual o seu ponto de vista com relação à hinologia? Deve ser local, protestante, medieval? De qualquer forma entendo que para se contextualizar uma igreja não é necessário descaracterizá-la. Mesmo quando houverem versões modernizadas dos hinos, que o sentimento seja sagrado e solene e não secularizado e irreverente. Os nossos maus tratos aos hinos padronizados, na minha opinião, refletem nada além da nossa preguiça.