Quando leio sobre a história da crucificação, um personagem que me chama muito a atenção é Pôncio Pilatos. Contraditório, indeciso, político, juiz; condenou Cristo a cruz embora tendo dito: “Não acho nele nenhum crime...”. Creio que a morte de Cristo seguiu o percurso divino e que Pilatos estava desde o início dos tempos predestinado para ordenar a crucificação.
Quando paro pra refletir sobre minha vida e ministério, às vezes também me encontro como um Pilatos: contraditório, indeciso, político e juiz. Mas, será que de vez em quando, ou quase sempre não é bom nos revestirmos de Pilatos? Estamos lidando com o povo, e o povo está constantemente gritando e fazendo suas reivindicações: Queremos isso, queremos aquilo, queremos ouvir isso, queremos ouvir aquilo, queremos cantar isso, queremos cantar aquilo!
Eles (o povo) precisavam de Cristo, mas clamavam por Barrabás. Pilatos lhes deu o que eles queriam não o que precisavam. Meu serviço na igreja é musical, mas, não me detenho apenas no musical, procuro observar a igreja como um todo. Quando digo “a igreja” não estou me referindo à igreja que sou membro ou à igreja que sou seminarista, me refiro a IGREJA de um modo geral. O que estamos dando pra esse povo? Estamos dando o que eles querem ouvir!
Eles querem ouvir que somos FILHOS DO REI! Que somos príncipes e princesas, que pertencemos a mais alta nobreza sobre a face da terra. Eles querem ouvir que nos tornaremos RICOS se formos fiéis a Deus! Ora, que não quer ouvir uma coisa dessa. Quem não quer crer que se dermos pra Deus mil reais ele vai nos dar de volta vinte mil e então teremos a chance de nos tornarmos sócios de Deus? Quem não quer ouvir que os crentes são as pessoas mais felizes, mais ricas e mais saudáveis deste mundo! E isso ser dito por um homem de Deus em nome de Deus!
Infelizmente muitas músicas cantadas em nossas igrejas carregam esse tipo de teologia; uma teologia medíocre, pobre, oca, vazia, sem nenhuma profundidade. Mas, isso não importa, daremos ao povo o que eles querem cantar, ainda que o que eles querem cantar seja um lixo musical e teológico. Tenho me preocupado semanalmente com o que a igreja está cantando, estão cantando o que realmente precisam cantar ou estão cantando o que eles gostam de cantar. Estão cantando que são RICOS do ponto de vista de Deus ou do ponto de vista deste mundo?
Cristo, no livro do Apocalipse disse à igreja de Ismirna que eles eram pobres, mas eram RICOS, pois, possuíam um Salvador; possuíam convicções profundas a cerca desse Salvador; possuíam uma herança guardada no céu onde a tribulação não poderia tocar e, possuíam vida eterna, por isso eles eram RICOS. Em seu primeiro sermão público, Jesus disse que nós somos muito felizes!
Feliz são os que choram... Felizes são os pobres de espírito... Felizes são os que sofrem perseguições. Nestes dias de eleições que estamos vivendo, tenho observado muitos crentes desesperados, apavorados... “se o partido tal ganhar estamos perdidos!”, “se o fulano de tal for eleito, os programas religiosos na televisão vão acabar!”, “se o (a) presidente de tal ganhar, ele (a) vai aprovar a lei tal!” E daí? O que isso vai mudar pra mim como crente em Jesus Cristo? As minhas convicções serão abaladas? Jesus nos garantiu dias de paz enquanto vivermos neste mundo? Não! Ele disse que nós seriamos muito felizes quando formos perseguidos.
Nós, que somos ministros do Senhor, que trabalhamos na igreja do Senhor, temos que ter todo o cuidado com o que entregamos para o povo cantar, ainda que às vezes aqueles pensamentos medíocres e pobres nos vêem a mente “vamos dar a eles o que eles querem”. Nosso papel e de, através da música (teologicamente correta) conduzir a igreja à adoração ao Senhor, e de ser ponte; nesse aspecto eu diria que devemos ser como Pôncio Pilatos, pois, o significado de Pôncio deriva de ponte, algo que concilia.
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